Um dia ela cansou. Cansou da vida, dos problemas, das traições e mentiras, do chefe chato, dos problemas alheios, de fingir gostos e desgostos.
Então, ela correu. Não a pé, mas de carro, para longe de tudo e todos que a lembrassem de um passado – sim, passado – que ela queria muito esquecer.
Sem gasolina, parou. E pensou: é aqui. Aqui era o lugar do recomeço, do renascer, do ressurgir das cinzas, no melhor estilo Fênix. Não conhecia ninguém nem tampouco a conheciam. Pensou mais. É agora. Desceu do carro, puxou assunto com o frentista – porque não era burra e gasolina no fim é sinônimo de posto. Soube que ali mesmo precisavam de uma secretária. Nunca fôra secretária, tinha sido chefe a vida toda. Pois é, outro recomeço. Era um sinal.
Apesar da falta de referências, conseguiu emprego. Começaria no dia seguinte.
Procurou um lugar para descansar e encontrou uma pensão. Apresentou-se e foi para o quarto. Simples, com uma cama, uma pequena tv e um roupeiro. Vazio. Não tinha mala, apenas algumas roupas que sempre carregava no carro. Ajeitou-as no roupeiro e tomou um banho.. A água que corria por seu corpo levou mais um pouco daquele passado que já parecia tão distante. Limpa, deitou-se e ligou a tv, bem baixinho. Começou a lembrar-se de todos, de tudo que deixara para trás. Sentiu-se triste, chorou… e adormeceu.
Lá pelas 7 horas, o despertador tocou. Olhou ao redor, assustada. Nem tv nem roupeiro quase vazio. Viu-se de volta ao passado. A mesma cama, o mesmo ronronar irritante do gato, a mesma agenda a cumprir, os mesmos indivíduos a enfrentar. Sentou-se à beira da cama, suspirou e colocou a cabeça entre as mãos, quase no colo. Nesta posição quase fetal, de volta a sua origem uterina, entendeu: tudo foi um simples – mas maravilhoso – sonho.
(escrito em um bloquinho, em 20 de junho de 2010)